sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

MLT controla 71 propriedades



Sem a mesma infra-estrutura do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), um grupo criado por quatro irmãos no sul da Bahia já controla 71 propriedades em todo o Estado --30 legalizadas (assentamentos) e 41 acampamentos, à espera da desapropriação.

Fundado em março de 1991, o MLT (Movimento de Luta pela Terra) ficou mais conhecido no começo da semana, durante um confronto entre seguranças de uma fazenda e integrantes do movimento, em Camaçari (região metropolitana de Salvador). No total, 60 pessoas ficaram feridas e 72 foram presas (todos funcionários da propriedade). Uma moto e dois carros foram incendiados.

Ao contrário do MST, que tem abrangência nacional, o MLT atua somente na Bahia. "Já temos 5.000 famílias [cerca de 20 mil pessoas] cadastradas", disse Damião Muniz da Silva, 34, um dos fundadores do movimento. No Estado da Bahia, seu rival MST possui 35 mil famílias cadastradas (140 mil pessoas), controla 75 assentamentos e 50 acampamentos.

Até 1990, Silva militava no MST. "Depois de algumas ações, percebi que o MST era um movimento basicamente político, dirigido por petistas. Como não concordava com os métodos empregados pelo grupo, acabei sendo expulso."

A Agência Folha procurou as principais lideranças do MST na Bahia para saber os motivos que levaram o movimento a expulsar Silva. De acordo com funcionários do movimento, todos os líderes estavam participando de um seminário em Goiânia e não poderiam ser interrompidos. Nas reuniões, os telefones celulares dos dirigentes ficam desligados.

Depois que saiu do MST, Damião Silva e seus irmãos Cosme e Etevaldo (já mortos) e Edivaldo fundaram o MDS (Movimento dos Desempregados do Sul da Bahia). Finalmente, em março de 1991, em Itamaraju (BA), surgiu o MLT. A primeira invasão realizada pelo movimento aconteceu dois meses depois, em Ilhéus (429 km ao sul de Salvador).

Casado, com uma filha, Damião Silva estudou até a 3ª série do ensino fundamental. Desempregado desde que passou a coordenar o MLT, Silva diz que sobrevive basicamente do salário de R$ 500 que sua mulher recebe.

Ele já esteve preso por 14 meses, acusado de assalto a banco e formação de quadrilha. No final de 2001, em Aporá (BA), Silva ficou detido por duas horas após um assalto a uma agência bancária.

Sem advogado, Silva, que alega inocência, disse que ficou preso em Inhambupe (BA) e Salvador e libertado por falta de provas.

Antes de invadir uma propriedade, o MLT promove pelo menos cinco reuniões com as famílias cadastradas na região. Nos encontros, a coordenação define o número de famílias que vão ingressar na área e o plano de ação.

Nos acampamentos e assentamentos, as assembléias, que são diárias, são o momento de confraternização entre os sem-terra. Ao som de músicas, os agricultores prestam contas à coordenação e planejam novas invasões. "Já chega de tanto sofrer, de tanto apanhar, a luta vai ser difícil. Na lei ou na marra, vamos ganhar", cantaram os sem-terra durante a invasão da fazenda Monte Cristo, em Camaçari, enquanto planejavam mais três ações no Estado.

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