Sem a mesma infra-estrutura do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra), um grupo criado por quatro irmãos no sul da
Bahia já controla 71 propriedades em todo o Estado --30 legalizadas
(assentamentos) e 41 acampamentos, à espera da desapropriação.
Fundado em março de 1991, o MLT (Movimento de Luta pela
Terra) ficou mais conhecido no começo da semana, durante um confronto entre
seguranças de uma fazenda e integrantes do movimento, em Camaçari (região
metropolitana de Salvador). No total, 60 pessoas ficaram feridas e 72 foram
presas (todos funcionários da propriedade). Uma moto e dois carros foram
incendiados.
Ao contrário do MST, que tem abrangência nacional, o MLT
atua somente na Bahia. "Já temos 5.000 famílias [cerca de 20 mil pessoas]
cadastradas", disse Damião Muniz da Silva, 34, um dos fundadores do
movimento. No Estado da Bahia, seu rival MST possui 35 mil famílias cadastradas
(140 mil pessoas), controla 75 assentamentos e 50 acampamentos.
Até 1990, Silva militava no MST. "Depois de algumas
ações, percebi que o MST era um movimento basicamente político, dirigido por
petistas. Como não concordava com os métodos empregados pelo grupo, acabei
sendo expulso."
A Agência Folha procurou as principais lideranças do MST na
Bahia para saber os motivos que levaram o movimento a expulsar Silva. De acordo
com funcionários do movimento, todos os líderes estavam participando de um
seminário em Goiânia e não poderiam ser interrompidos. Nas reuniões, os
telefones celulares dos dirigentes ficam desligados.
Depois que saiu do MST, Damião Silva e seus irmãos Cosme e
Etevaldo (já mortos) e Edivaldo fundaram o MDS (Movimento dos Desempregados do
Sul da Bahia). Finalmente, em março de 1991, em Itamaraju (BA), surgiu o MLT. A
primeira invasão realizada pelo movimento aconteceu dois meses depois, em
Ilhéus (429 km ao sul de Salvador).
Casado, com uma filha, Damião Silva estudou até a 3ª série
do ensino fundamental. Desempregado desde que passou a coordenar o MLT, Silva
diz que sobrevive basicamente do salário de R$ 500 que sua mulher recebe.
Ele já esteve preso por 14 meses, acusado de assalto a banco
e formação de quadrilha. No final de 2001, em Aporá (BA), Silva ficou detido
por duas horas após um assalto a uma agência bancária.
Sem advogado, Silva, que alega inocência, disse que ficou
preso em Inhambupe (BA) e Salvador e libertado por falta de provas.
Antes de invadir uma propriedade, o MLT promove pelo menos
cinco reuniões com as famílias cadastradas na região. Nos encontros, a
coordenação define o número de famílias que vão ingressar na área e o plano de
ação.
Nos acampamentos e assentamentos, as assembléias, que são
diárias, são o momento de confraternização entre os sem-terra. Ao som de
músicas, os agricultores prestam contas à coordenação e planejam novas
invasões. "Já chega de tanto sofrer, de tanto apanhar, a luta vai ser
difícil. Na lei ou na marra, vamos ganhar", cantaram os sem-terra durante
a invasão da fazenda Monte Cristo, em Camaçari, enquanto planejavam mais três ações
no Estado.
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